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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A Santa Missa - um Depoimento

A Santa Missa na Internet - um Depoimento


Sou católico, inicialmente por herança e depois por opção. Nasci numa família católica, desde pequeno me foi dito que minha religião era a Católica Apostólica Romana, minha Mãe me ensinou a assistir às missas dominicais. A missa dominical não foi uma regra em minha infância, mas fui crescendo com grande interesse pelas ciências exatas e isso me aproximou de Deus. Quanto mais eu me maravilhava com a estrutura e o funcionamento da natureza mais eu sentia em tudo a Vontade de Deus.




Já na juventude, passei a ir regularmente à missa aos domingos. (Confesso que havia namoradas freqüentando a mesma igreja, mas o meu fascínio pela celebração era genuíno.) Durante muito tempo me pareceu que o ato de presença na Casa de Deus uma vez por semana era tudo o que Deus esperava de mim. É preciso não esquecer que, então, rezada em latim, a missa só tinha algumas partes duplicadas em português. Naturalmente, o meu latim de ginásio não era suficiente e eu entendia nada. 

De qualquer forma o ritual litúrgico em si me fascinava. Cheguei a pensar que esse fascínio estava ligado ao mistério de não saber o que acontecia por debaixo do latim, e que naturalmente o encanto se quebraria quando eu descobrisse.

Procurando entender

Certa vez, já casado e com cinco filhos, pedimos a frei Heitor Turrini, um servita missionário no Acre que costumava frequentar nossa casa, que explicasse afinal-de-contas-o-que-era-uma-missa. Ele fez melhor. Disse "Eu vou dar um livro para vocês, vocês vão gostar". 

No dia seguinte recebemos um volume encadernado em couro e com gravações em ouro na capa: A Missa – Dogma e Liturgia, do Pe. Bueno de Sequeira, então membro da Academia Mineira de Letras. Isso foi em 1960. Esse livro, que conservo amorosamente até hoje, foi minha iniciação na Santa Missa. Entretanto, a Missa só passou a ser celebrada na língua de cada país dez anos depois, por uma das decisões do Concílio Vaticano II. 

O que deveria ser uma explosão de entendimento e amor pelo ritual, não aconteceu. Antes, rezada em latim, eu apenas marcava presença na Missa e passava ao largo do seu significado. Agora, rezada em português, eu via uma sucessão de orações cujo sentido ali ainda me escapava - e eu não tinha mais a justificativa da língua. O mistério da Missa em latim havia desaparecido. A minha participação continuava tão mecânica como antes.

A essa altura eu trabalhava em publicidade e havia descoberto um novo instrumento de comunicação, o computador. Passei os anos seguintes incomodado, mas de certa forma me conformando em ser apenas um assistente e não um participante das missas dominicais.

Um projeto pessoal

Três anos atrás, senti uma súbita necessidade de entender de vez a Santa Missa, antes que fosse tarde demais. Comprei livros, missais, lecionários. Passei madrugadas mergulhado no riquíssimo material do site do Vaticano. Entrei fundo na Catholic Encyclopædia. 

Finalmente a Missa se revelou para mim por inteiro – e me apaixonei pela extraordinária peça de comunicação que ela é. 

Se é uma peça de comunicação extraordinária, por que não comunicava? 

Esse era justamente o ponto crítico. A Missa tem um conteúdo riquíssimo, mas todo ele versando fatos e pessoas que ficaram dois mil anos para trás. Ligar esse contexto aos nossos referenciais não é coisa fácil.

E eu pensei. Ora, tenho curso superior, sou especializado em Comunicação, me considero um católico um pouco mais interessado do que a média, e só agora estou entendendo a Missa. Acho que pela Internet posso fazer alguma coisa a respeito, para ajudar as outras pessoas. 

Esse foi o começo do projeto. Queria explicar a Missa pela Internet, em palavras simples. Fiz um estudo às luzes das grandes aberturas que havia encontrado nos documentos oficiais da Igreja. Porque a Igreja é tida como extremamente conservadora, mas não é isso que se vê ao estudar o que ela publica. 

O Concílio Vaticano II foi um marco memorável na abertura da Igreja. Claro que não aconteceu de repente, ele foi o resultado de um amadurecimento cauteloso e seguro dos bispos quanto à necessidade de revisar o relacionamento da Igreja consigo mesma, isto é, com os fiéis que a formam. Mas o Concílio foi a ordem de mobilização urgente: "Vamos!".

Incentivo e ajuda

Fiz o estudo e fui falar com a CNBB. Queria saber se estava no caminho certo. Eu me preocupava em fazer duas coisas: primeiro, precisava explicar a Santa Missa, não podia conter dentro de mim o que havia descoberto, a beleza da grande Ceia, a profundidade espiritual da grande Oração que ela é – e, depois, queria oferecer o texto da Missa do dia a qualquer hora para milhares de pessoas necessitadas. Pessoas impossibilitadas de se deslocar até uma igreja. Pessoas entrevadas. Pessoas enfermas, pessoas de idade avançada. Pessoas de qualquer idade em grande angústia espiritual no meio da madrugada e para quem, naquele momento, a Palavra de Deus poderia ser um lenitivo decisivo. 

Enviei meu estudo a Dom Geraldo Lyrio Rocha, bispo de Colatina e responsável no Brasil pela dimensão litúrgica e santuários. Dom Geraldo me respondeu com grande carinho, com conselhos e incentivo para prosseguir.

Não esperei mais, porém não foi fácil. Ao longo do trabalho tentei, sem sucesso, conseguir o envolvimento de alguns sacerdotes mais próximos. A verdade é que os trabalhos sociais da Igreja, que a gente nem vê, tomam cada minuto do tempo deles – para mim nunca sobrava, e me resignei a continuar sozinho. Já mais no fim do projeto, um franciscano, Frei Anacleto Luiz Gapski, que também não tinha tempo mas fez tempo, me ajudou bastante revisando o trabalho todo e desde 22 de julho este site está no ar.

A riqueza da Mesa da Palavra

Não existe site similar no mundo todo, e só depois que este site ficou pronto é que fui entender por quê. 

A extraordinária riqueza da Missa está, justamente, na grande variedade oferecida pela Mesa da Palavra. Os textos se renovam todos os dias. Cada Missa tem duas dúzias de ritos e orações que podem variar, e variam cada dia segundo regras estabelecidas com grande precisão pela Igreja. 

É impossível repetir o texto de uma Missa de dia de semana antes de decorridos dois anos e para uma Missa dominical o intervalo é de três anos. Compor uma Missa é um ato delicado e complexo. O computador nos ajuda muito, mas montar os programas exigidos e operá-los é tarefa para poucos. Entretanto, com certeza é uma tarefa imensamente gratificante, que nos dá uma sensação de intimidade com Deus que não tem preço.

A Eucaristia

A primeira pergunta que muitas pessoas me fazem é "como é que fica com a Eucaristia, essa Missa inclui a Celebração Eucarística?". 

Meu primeiro impulso é dizer "não". Mas depois me lembro que Lucien Deiss, um dos grandes nomes da renovação bíblica e litúrgica pós-conciliar, em seu livro La Messe – Sa Célébration Expliquée diz o seguinte: 

"Quem celebra a Missa? Outrora, a resposta era: o padre. Na realidade, deve-se responder: a comunidade, com o seu sacerdote, cada qual no seu posto. A segunda pergunta: Quem preside à celebração? Antigamente, respondia-se: o padre. Mas a resposta certa deve ser: Cristo". 

Mais adiante, sobre a Celebração Eucarística, Lucien Deiss continua: 

"Quem consagra? ... Diz-se, algumas vezes, que o sacerdote consagra. Rigorosamente falando, esta afirmação não tem consistência. ... É, portanto, o Pai Quem consagra pelo Espírito Santo. Corresponde ao sacerdote pronunciar, em nome da comunidade, a oração para que isso se realize". 

Isto mostra que, ao contrário de serem espectadores passivos, os fiéis, a comunidade, desempenham na celebração da Missa um papel significativo, cuja importância ainda não consegui medir. 

No fim, minha resposta por enquanto ainda é "não". Mas negar valor espiritual à leitura dessa Missa solitária é negar valor espiritual à oração que fazemos sozinhos, à noite, ajoelhados ao pé da cama.

Informações periféricas

O site vai além de explicar a Missa, oferecer o texto da Missa de cada dia e o significado das palavras mais importantes para o seu entendimento. Nele, os próprios sacerdotes têm, apresentadas de forma prática e direta, informações que usualmente precisam ser obtidas em tabelas dispersas e nem sempre fáceis de interpretar. 

Por exemplo, as festas móveis variam a cada ano segundo o dia em que cai a Páscoa. Não é fácil definir a data da Páscoa cada ano, já que por sua vez ela também se baseia num fato variável - a lua cheia que ocorre depois do equinócio de outono no hemisfério sul.

A Igreja fornece periodicamente tabelas para intervalos de dez anos com a indicação da data da Páscoa e das principais festas móveis, mas no site essas datas todas são calculadas automaticamente para qualquer ano do calendário.

Agradecimento

Depois de publicado o site, quis dar a notícia aos nossos bispos. Escrevi a todos que pude contatar por e-mail. Desejava apenas comunicar, não esperava que se preocupassem em me responder. Para minha surpresa, recebi inúmeras respostas que valem, cada uma delas, como paga mais do que suficiente pelos anos que dediquei ao projeto. Aos meus bispos, muito obrigado.


Milton Claro
Advogado e publicitário, e autor do projeto deste site.
Setembro de 2002


fonte: http://www.santamissa.com.br/temas_interesse/temas.asp?tema=Missa&id=6&id_texto=15

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